Viúva de Bruno está preocupada com criminalidade no Vale do Javari

Redação 14/07/2022
Atualizada 2022/07/14 at 8:30 PM
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A Comissão Externa do Senado que apura as causas do aumento da criminalidade e de atentados na Região Norte ouviu hoje (14) duas pessoas próximas ao indigenista Bruno Pereira que, ao lado do jornalista britânico Dom Phillips, foi assassinado no dia 5 de junho.

Tanto a esposa de Bruno, Beatriz Matos, como o líder indígena e ex-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Jader Marubo, manifestaram preocupação com a retomada das mesmas atividades criminosas que, supostamente, causaram as duas mortes.

Durante a audiência, os convidados disseram que o trabalho que vinha sendo desenvolvido pelo indigenista e pela Univaja representavam “problema” para grupos criminosos com interesses em explorar riquezas da Terra Indígena Vale do Javari, bem como para políticos da região.

Jader Marubo disse que Bruno se orgulhava de lutar pela proteção dos índios isolados e dos povos indígenas do Vale Javari. Ele lembrou da atuação do indigenista para que os índios tivessem direito de voto e que ele teria denunciado casos de políticos que compravam votos de ribeirinhos na região, motivo pelo qual também teria recebido ameaça de morte.

“A partir do momento em que ele vestiu a camisa, e com a boa vontade de lutar pelo território, o Bruno acabou mexendo com pessoas poderosas da nossa região. São pessoas que lutam para ter poder. São políticos, comerciantes, narcotraficantes, pescadores, caçadores e garimpeiros, que estão invadindo nossa terra pela parte sul, com dragas que podem fazer extinção em massa de nossas regiões de pesca. Eles estão adentrando em um território onde existem muitos índios isolados”, relatou a liderança indígena.

Exoneração

Companheira de Bruno Pereira, a antropóloga Beatriz Matos, que também atua no Vale do Javari, lembrou que seu marido assumiu a coordenação geral de índios isolados da Funai em um momento em que as ameaças e invasões se intensificaram. Entre as ações coordenadas por Bruno, ela cita o desmantelamento de balsas de garimpo no sul da Terra Indígena Vale do Javari.

“Logo depois de realizar essa ação ele recebeu, de uma hora para outra, o aviso de exoneração. Isso foi em 2019. Na sequência, assumiu um coordenador ligado a missões religiosas, de instituições que têm interesse contrário à politica do não contato. Pelo contrário, buscam contato com os isolados”, disse.

Bruno foi então designado a voltar ao antigo posto, na frente de proteção do Vale do Javari, em uma unidade específica da Funai. “Ele e outros colegas tinham suas vidas sob ameaça. Ele entendeu que começaria a ter perseguições na própria Funai, o que de fato acabou acontecendo”, acrescentou Beatriz.

Diante da situação, Bruno pediu licença não remunerada e assumiu uma assessoria para a qual foi convidado pela Univaja, por entender ter, ali, mais condições de dar sequência ao trabalho.

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