A encenação do roubo de uma bolsa, com a participação de um morador em situação de rua, produzida pela equipe do vereador Gabriel Monteiro (PL), ainda que seja classificada pelo parlamentar como um experimento social, configura crime, segundo o delegado titular da 42ª Delegacia de Polícia, Luis Armond. Ele depôs nesta terça-feira (21), no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Municipal do Rio dentro do processo que analisa se o vereador cometeu quebra de decoro parlamentar.
“O embasamento em si [de experimento social] não vai afastar uma ilicitude do fato. Caracterizando que houve essas exposições e tudo mais, embora seja um experimento, não é todo experimento que é permitido. Então, não vejo como isso afastar alguma coisa. A exposição é real. Está se simulando uma situação, mas nem todos os personagens, pelo o que está sendo apurado, estariam conscientes dessa questão. Não seria uma encenação. Haveria a possibilidade de acontecimentos imprevisíveis”, disse o delegado, à saída da comissão.
Segundo ele, o oferecimento de dinheiro para o morador de rua simular que estaria furtando a bolsa de uma mulher, à noite, no bairro da Lapa, em março deste ano, constitui um agravante.
O advogado Sandro Figueredo, que defende Gabriel Monteiro, rebateu a tese do delegado.
“Todos os experimentos sociais do vereador Gabriel Monteiro têm o único sentido de mostrar para a sociedade que o crime não é a última opção. Com extremo respeito, nenhum delegado de polícia tem competência para definir se há ou não culpa. Quem vai definir isso é a autoridade judiciária, através do processo criminal. Ao final da investigação, eu tenho convicção que o relatório do delegado vai ser pela atipicidade da conduta”, disse o advogado.
O próprio vereador procurou a imprensa para se posicionar sobre o fato, alegando que a gravação veiculada nas televisões trata-se de “uma mentira”. Ele mostrou, em um celular, trechos do vídeo, alegando que se tratava de uma campanha contra o feminicídio.
“É um experimento meu, social, que eu mostro para a sociedade que ela pode ser vítima – nossas mães, avós, irmãs, sobrinhas – a qualquer momento, de homens sanguinários. E eu mostro que muita gente está disposta, por dinheiro, a participar de um assassinato contra uma mulher”, sustentou o parlamentar.
Também foi ouvido na Comissão de Ética o policial militar Pablo Foligno, que participou do vídeo dando um forte empurrão no morador de rua induzido a furtar a bolsa da mulher. Com o gesto, o morador de rua cai no chão. Foligno prestou depoimento após o delegado, mas deixou o prédio da Câmara sem falar com a imprensa.
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