Diálogo no Escuro convida público a vivenciar o mundo sem enxergar

Redação 04/09/2022
Atualizada 2022/09/04 at 9:00 PM
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Imagine uma cidade em total escuridão onde nada pudesse ser visto e nenhuma luz entrasse. Por 45 minutos, você passaria por bares, pontes, parques e cruzamentos de carros, mas eles só seriam percebidos por meio de sons, cheiros ou toques. Assim é a sensação proposta pela nova exposição em cartaz no Unibes Cultural, que fica ao lado do Metrô Sumaré, em São Paulo, chamada de Diálogo no Escuro.

A mostra, criada na Alemanha, já esteve em cartaz por mais de 40 países, entre eles, o Brasil. Ela já passou por São Paulo e volta para mais uma temporada. “Essa é uma exposição que foi montada na Alemanha em 1989”, disse Andrea Calina, curadora da promoção no Brasil. “Ela já passou por 170 cidades e 47 países e está fixa hoje em 29 localidades. Ela já foi vista por dez milhões de pessoas”, afirmou ela, em entrevista à Agência Brasil.

São quatro ambientes que reproduzem uma cidade atual. E a ideia é que qualquer pessoa possa vivenciar o mundo de uma forma diferente: sem o sentido da visão, mas praticando a empatia. “Muitas das mensagens da mostra – além da inclusão e da diversidade e de se discutir os preconceitos entre nós e eles, com quem eu me pareço ou quem é igual a mim – trazem também reflexões sobre o pós pandemia, como é a escuta ativa, a comunicação humana, a solidariedade, a cooperação, a compaixão”, explicou Andrea.

Ao entrar na sala expositiva, a pessoa recebe uma bengala em que uma de mãos ficará sempre apoiada. Com a ajuda de um guia, o visitante irá explorar os ambientes com a outra mão e se reconhecer como parte de um novo mundo.

Cego aos 13 anos

Ao final, o divertido guia da exposição, Sonny Pólito, termina a experiência promovendo um bate-papo com o visitante. É então que ele finalmente conta sua história: ele ficou cego aos 13 anos de idade.

“Comecei a perder minha visão com dez anos de idade. Com 12 ou 13 anos deixei de enxergar os livros e as revistas. Mas consegui terminar os meus estudos. Hoje, sou formado, terminei a faculdade e passei por várias empresas”, revelou ele.

Pólito é um dos fundadores da startup [empresa emergente] Inclue. E, na exposição, ele é o guia que conduz uma pessoa com visão a se locomover por uma cidade onde nada é visto. “Fui treinado para poder fazer com que a experiência seja a melhor possível. E, se possível, inesquecível”, contou.

“As pessoas entram aqui com muito medo porque é escuro. É uma barreira. Mas, no fim, nosso objetivo é fazer com que elas possam andar e entender como é viver sem o sentido da visão. É se aproximar um pouquinho da escuridão e entender como essas pessoas vivem sem enxergar. Elas vão passar por vários ambientes que são do cotidiano, do dia a dia. E elas vão entender como é tocar, ouvir e usar os outros sentidos. É uma troca: lá fora as pessoas me guiam. Aqui dentro, eu posso guiar as pessoas para que elas possam passar por essa experiência”, acrescentou o guia.

A reportagem da Agência Brasil participou dessa experiência junto com um grupo de estudantes e pôde sentir, por exemplo, a dificuldade que é deslocar o seu pé de uma calçada mais alta para a rua. E, depois, ter que atravessar essa rua rapidamente, antes que o semáforo [sinal luminoso] volte a fechar para o pedestre. Lembrando que, na exposição, o semáforo é adaptado, emitindo som para auxiliar o pedestre sobre o momento em que ele pode atravessar a rua. Mas, no dia a dia, poucos desses semáforos realmente existem ou funcionam.

Experiência

O estudante e funcionário de uma rede de varejo Fernando Freire de Oliveira, 18 anos, participou desse grupo onde esteve a reportagem. “É uma experiência bem diferente. É difícil eu me orientar sem ter a minha visão, que é algo que eu mais presto atenção na minha vida”, contou ele.

“A parte mais difícil foi quando chegamos ao bar e era muito aberto e todo mundo acabou se perdendo. O Sonny teve que buscar a gente em cada canto da sala”, disse ele, sobre a experiência na sala expositiva.

“Não tive medo, mas uma sensação de desorientação, de não saber onde estava, de me sentir perdido. E de ter que precisar da ajuda de outras pessoas para conseguir me mexer. A gente vê aqui a necessidade de olhar mais para essas pessoas que têm deficiência”, explicou Fernando.

O jovem aprendiz Lucas de Lima Oliveira, 19 anos, é deficiente visual total. “Perdi a visão aos seis anos de idade em decorrência de uma trombose e pressão intracraniana. E, de uns três ou quatro anos para cá, estou me adaptando muito bem, totalmente. Depois que eu perdi a visão, automaticamente tive a sensação de que precisaria me adaptar ao novo mundo. E agora estou fazendo tudo diferente”, revelou.

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