O Museu de Arte do Rio (MAR) recebe, a partir de hoje (6), a mostra individual Ramificar, do artista plástico RAMO. A entrada é gratuita e o museu fica na Praça Mauá, na zona portuária do Rio de Janeiro.
A mostra vai até o dia 6 de novembro, no Espaço Orelha, ao lado da biblioteca, no quarto andar do museu, com funcionamento de quinta-feira a domingo, sempre das 11h às 18h, sendo que a entrada ao pavilhão ocorre até 17h.
Falando à Agência Brasil, RAMO conta que o tema central da exposição é um exercício de conexão entre os dois territórios que são muito importantes para ele: a cidade de Mauá, no ABC Paulista, onde nasceu, com a Praça Mauá e a Pequena África.
“É uma justaposição entre as culturas que estão sendo trabalhadas ali, pensando e produzindo a partir do corpo de homens pretos e periféricos, ou favelados”.
A região do Rio de Janeiro que compreende a zona portuária, Gamboa e Saúde, e também onde se encontra a Comunidade Remanescentes de Quilombos da Pedra do Sal, Santo Cristo, assim como outros locais habitados por escravizados alforriados, ficou conhecida como Pequena África, entre os anos de 1850 e 1920.
RAMO explicou que, ao olhar para esse exercício social, buscou soluções práticas, visuais e poéticas para lidar com a constante negligência do estado brasileiro em relação a essa população específica. O artista levanta o debate sobre o racismo e a violência contra o negro. “A ideia é discutir território e, ao mesmo tempo, criar soluções práticas no campo das artes visuais para essa vereda com que a gente precisa lidar”.
Obras
Ao todo, são 29 obras expostas, sendo três produzidas exclusivamente para a exposição: duas pinturas (Amor e Tereza) e uma instalação 111 (Neo Ex-Votos).
A instalação traz a proposta de cura para a vilanização do homem preto e periférico a partir da memória do Massacre do Carandiru, chacina resultou em 111 mortos e que completa 30 anos no dia 2 de outubro.
Já a obra Tereza traz um momento de esperança e afeto para a exposição, ao mostrar um autorretrato de RAMO e sua companheira, Ester Lopes.
RAMO conta que a exposição pretende entender a periferia carioca em sua complexidade, a partir da troca e do aprendizado com os moradores locais.
“Ramificar também é refletir sobre esse movimento, essas idas e vindas, esses fluxos e refluxos, partindo do meu corpo de homem preto e periférico e do desejo de dialogar com os meus pares, porque a periferia é extremamente múltipla. Eu espero que as pessoas se sintam tocadas, reflitam e ramifiquem”.
Artista
Roger Ramos começou a demonstrar talento para as artes plásticas ainda novo, apoiado pelos pais, que o incentivavam a ler e escrever. Desenhava desde criança e sempre esteve ligado a processos pedagógicos e educativos que lidam com a arte. Profissionalmente, o artista RAMO surgiu em 2016.
Ele estará na abertura da mostra e convidou outros artistas plásticos cariocas para participar de uma feira de arte paralela, chamada O corre, gíria que se refere à rotina corrida, à luta diária de artistas e produtores, em geral.
No início de 2020, RAMO participou com duas obras da exposição Rua!, também no MAR.
Diálogo
O curador-chefe do MAR, Marcelo Campos, afirmou que a exposição mantém o museu em diálogo com os jovens e os artistas contemporâneos.
“RAMO não trabalha diretamente com a cena violenta. Há uma espécie de imaginário da violência. Você vai ter na obra, por exemplo, um elemento como o rosto coberto pela camiseta, que é a referência ao Carandiru e à ideia de vilão. Ou seja, na obra do RAMO, você vai ter elementos que te colocam em diálogo e reflexão sobre a violência, mas você não tem a cena”, destac Campos.
“A mostra ajuda a cumprir a nossa missão no MAR de manter o diálogo com os jovens e os artistas contemporâneos. Com Ramificar conseguimos também colocar a arte a favor de discussões fundamentais para a nossa sociedade e, principalmente, para a região onde estamos”, acrescenta Raphael Callou, diretor da Organização de Estados Ibero-americanos (OEI), que é gestora do MAR desde janeiro deste ano.
Edição: Denise Griesinger
Fonte: EBC