Seca, enchentes e pouco investimento em infraestrutura ameaçam segurança hídrica em Santa Catarina

Redação 28/06/2022
Atualizada 2022/06/28 at 12:16 PM
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Em Santa Catarina, os extremos climáticos, somados ao pouco investimento em infraestrutura, ocasionam falta de água e ameaçam tanto o abastecimento à população quanto ao setor produtivo. Depois da crise hídrica no fim de 2021, alertas de estiagem e seca preocuparam produtores em fevereiro, segundo o mapa do Monitor de Secas, produzido pelo governo do estado, com seca grave no leste de Santa Catarina e de seca extrema no oeste. Já entre maio e junho deste ano, ainda de acordo com informações do governo do estado, a grande quantidade de chuvas prejudicou o abastecimento de água em várias regiões.

De acordo com o Painel Hidrológico de Santa Catarina, da Secretaria Executiva do Meio Ambiente (Sema), integrada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDE), as situações mais graves de abastecimento de água hoje são Chapadão do Lageado e São João Batista, que se encontram em situação de emergência. Já a Barragem Taió Montante, que atende ao município de Taió, se encontra em situação de alerta.

O deputado federal Celso Maldaner (MDB-SC) ressalta que em Santa Catarina, dos sete milhões de habitantes, aproximadamente cinco milhões ainda não têm saneamento básico e mais de 800 mil não têm acesso à água potável, o que é “uma vergonha para o estado”. O parlamentar alerta que é necessária uma melhor gestão tanto dos investimentos no setor quanto do recurso em si.

“Se gastou mais em 2021 em marketing e propaganda do que em saneamento básico. Isso é muito ruim para Santa Catarina. Recentemente enfrentamos uma crise muito grave provocada pela estiagem em nossa região. Os prejuízos atingiram produtores rurais, empresas e casas. Muitos municípios não tinham água nas torneiras para beber. Acredito que com o marco do saneamento básico vamos resolver uma parte dos problemas, mas é preciso ir além, com aumento de reservatórios e melhor gestão do uso da água”, aponta Maldaner.

O deputado lembra que o montante investido no setor por meio do marco do saneamento não só vai ajudar a afastar o risco de futuras crises hídricas, como também vai garantir a saúde da população, o que poupa recursos que podem ser reinvestidos justamente em melhorias no setor. “Investir em esgoto é investir em saúde. A cada R$ 1 investido em saneamento, economizamos R$ 4 em saúde e evitamos graves doenças”, destaca.

Saneamento no Brasil

O Brasil tem 12% da reserva mundial de água doce, mas a distribuição é desigual, falta infraestrutura e os desafios impostos pela mudança climática, pelo desperdício e pela má gestão do recurso causaram crises hídricas graves nos dois últimos anos. Os dados são da Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (Aladyr) e ligaram o alerta para a necessidade de uma visão mais integrada do uso da água no país, bem como o uso de fontes alternativas para que o Brasil alcance a segurança hídrica, essencial para a população, os animais e para a geração de emprego e renda.

Eduardo Pedroza, representante brasileiro da Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (Aladyr), explica que o Brasil começou a encaminhar a busca pela segurança hídrica com o novo marco do saneamento, com investimentos que devem levar água e esgotamento sanitário à maioria da população até 2033. Mas que é preciso, ainda, um trabalho integrado da sociedade civil, iniciativa privada e governo, em diversas áreas, para garantir a disponibilidade de água em qualidade e quantidade suficientes.

“Para construir a segurança hídrica, o Brasil precisa, primeiro, universalizar o saneamento, qualificar a estrutura de saneamento, para reduzir as perdas de água que ainda são altas, investir na interligação de bacias hidrográficas e é fundamental incentivar o uso de fontes alternativas, como o reúso da água e a dessalinização”, enumera Pedroza.

Desde 2019, com a publicação do Plano Nacional de Segurança Hídrica, a Agência Nacional de Águas (ANA) alerta para a necessidade de investimentos em infraestrutura hídrica estratégica para o país, além de estímulo ao uso de fontes alternativas. As estimativas são de que, se os investimentos não forem feitos, cerca de 70 milhões de brasileiros estarão em situação de risco hídrico em 2035. A indústria e a agropecuária, bem como a renda e os empregos que os setores geram, também devem sofrer com isso: as perdas econômicas podem ultrapassar os R$ 518 bilhões.

Ainda segundo o Plano Nacional de Recursos Hídricos, para evitar futuras crises, o Brasil precisa de ações de revitalização de bacias, uso de soluções baseadas na natureza e estímulo ao reúso da água nos próximos 18 anos.

Água de reúso

Dentre as fontes alternativas, o reúso de água está entre as mais baratas e viáveis para ajudar o Brasil a se prevenir contra a escassez, mesmo em momentos climáticos mais complicados. A técnica consiste na própria existência do ciclo natural da água, que é usada, descartada e retornada a nós por meio da chuva. No caso do reúso, empresas especializadas usam o efluente de companhias de esgoto e indústrias, ou seja, aquilo que é descartado, fazem o tratamento deste volume e disponibilizam a água limpa para ser reutilizada nos mais diversos fins.

O próprio reúso ajuda tanto o saneamento básico quanto a segurança hídrica, uma vez que parte do esgoto que seria descartado em um rio acaba passando por novo tratamento e é utilizado por uma indústria, por exemplo. Segundo a Aladyr, quase 80% das águas residuais do mundo são despejadas na natureza sem nenhum tratamento. Com o reúso, é possível reduzir a poluição nos cursos d’água, promover a longo prazo uma fonte confiável de abastecimento de água e gerenciar a demanda do recurso nos períodos de seca.

De acordo com estudo divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil tem potencial para aumentar em quase 13 vezes a capacidade instalada para produzir água de reúso. Atualmente, o país produz pouco mais de um metro cúbico por segundo. Para isso, seriam necessários investimentos de R$ 1,89 bilhão em infraestruturas de reúso de água, que trariam um incremento na economia de quase R$ 5,9 bilhões.

Ainda segundo o estudo, o Brasil precisa investir R$ 593,3 bilhões nos próximos 12 anos para universalizar os serviços de saneamento básico, sendo que R$ 42,7 bilhões devem ser direcionados para a redução do índice de perdas de água para níveis satisfatórios. Atualmente, as concessionárias desperdiçam pelos canos cerca de 40% da água captada.

Fonte: Brasil61

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