A TCC é uma abordagem inovadora que vem despertando o interesse tanto de profissionais e estudantes das áreas de Saúde e Saúde Mental, quanto da mídia e do público em geral. Esse interesse se deve à características próprias, como a duração breve do processo terapêutico, seu modelo cientificamente fundamentado e a eficácia comprovada com base em estudos clínicos.
Dentre as várias áreas de atuação da psicologia, destaca-se a psicologia clínica, que descreve os transtornos psicológicos, os fatores de instalação e manutenção destes, e os métodos de tratamento. Há hoje várias escolas de psicoterapia, que se baseiam em modelos próprios. Dentre elas, destaca-se a Terapia Cognitivo-Comportamental, também conhecida por TCC.
Origem
A Terapia Cognitiva, como foi inicialmente denominada, foi proposta pelo Dr. Aaron Beck, psiquiatra e professor de psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade da Pennsylvania, em Philadelphia, Estados Unidos. Na década de 1950, além de psiquiatra, o Dr. Beck atuava também como psicanalista. Com a intenção de validar os princípios psicanalíticos, decidiu conduzir pesquisas, utilizando o método científico, adotado pelo meio acadêmico. Iniciou suas pesquisas estudando o modelo psicanalítico da depressão, porém seus dados não ofereceram suporte ao modelo original. Ao contrário, com base nos dados obtidos, ele propôs um modelo alternativo – o modelo cognitivo de depressão – que, evoluindo em seus aspectos teóricos e práticos, resultou na proposição de um novo sistema de psicoterapia, que ele denominou de Terapia Cognitiva, ou seja, terapia que atua sobre a estrutura e o funcionamento cognitivo dos pacientes. A denominação TCC se popularizou a partir dos anos 1980 e envolve o mesmo princípio básico e o mesmo modelo de psicopatologia da TC, apenas reconhecendo a possibilidade de atuação direta sobre comportamentos, com o objetivo de provocar mudanças nas cognições a eles associadas.
Modelo
A TCC propõe um modelo próprio de desenvolvimento da personalidade, bem como um modelo de instalação das psicopatologias. Este último descreve como desvios do desenvolvimento normal da personalidade podem resultar na instalação e manutenção de transtornos psicológicos.
A TCC aplica-se com eficácia ao tratamento de várias classes de transtornos, como a depressão, os transtornos de ansiedade (o transtorno de ansiedade generalizada, as fobias, o transtorno de pânico, o TOC- transtorno obsessivo-compulsivo, o TEPT- transtorno de estresse pós-traumático, a hipocondria), o abuso e a dependência de álcool e outras drogas, os transtornos alimentares, os transtornos de personalidade, as psicoses (esquizofrenia, transtorno bipolar), entre outras. E aplica-se a indivíduos, grupos, casais e famílias; e a adultos, crianças e adolescentes.
Propõe três níveis de consciência que se inter-relacionam continuamente: consciente, pré-consciente e inconsciente, este último hoje também denominado de memória implícita. O inconsciente aloja as estruturas cognitivas fundamentais; mas, ao contrário da teoria psicanalítica, em TCC propomos que conteúdos inconscientes podem ser acessados conscientemente.
O pré-consciente comporta vários fluxos paralelos de pensamentos automáticos, processando continuamente o oceano de estímulos que incidem sobre os nossos sentidos. O consciente, por sua vez, comporta apenas um fluxo de processamento cognitivo a cada momento, devido ao alto grau de complexidade e eficácia de seus processos.
Os processos cognitivos envolvem as estruturas cognitivas inconscientes, denominadas esquemas e crenças. Processos, como percepção, interpretação, representação, atribuição de significado, atenção, raciocínio, aprendizagem, reconhecimento, classificação, etc, ocorrem implicitamente através dessas estruturas, isto é, sem nosso conhecimento consciente.
E os produtos resultantes, as cognições, dentre as quais destacamos os pensamentos automáticos ocorrem em nosso pré-consciente e refletem o significado por nós atribuído à realidade interna e externa, a eventos, a pessoas e a nós mesmos. As cognições, ou pensamentos automáticos, em inúmeros fluxos paralelos, determinam a qualidade e a intensidade de nossas respostas emocionais (o que sentimos, como por exemplo, tristeza ou alegria, ansiedade ou tranqüilidade), e a forma de nosso comportamento (o que fazemos).
Os esquemas e crenças, bem como os pensamentos automáticos, são alvos privilegiados da intervenção terapêutica em TCC em diferentes estágios do processo clínico, visto que, mudando estruturas cognitivas e cognições, mudamos também as emoções adversas e os comportamentos disfuncionais que as acompanham.
A construção da realidade
A TCC adota um paradigma de processamento de informação como modelo de funcionamento humano. Tem como princípio básico a proposta de que, na verdade, constrói-se a realidade na medida em que processa-se os eventos, as pessoas e a si próprio. Ou seja, não percebemos a realidade como ela é, mas a percebemos à luz de nossas experiências anteriores de vida. E a nossa percepção da realidade determina nossas respostas emocionais e comportamentais.
Para ilustrar seu princípio básico, suponhamos uma pessoa que, ao se aproximar da parada de ônibus no final de um dia de trabalho vê seu ônibus partindo. Diante desse evento, esse indivíduo pode pensar: “Não! Perdi o ônibus… Agora terei que esperar tanto! Estou perdendo tempo…”; pensando assim, sua emoção será tristeza e seu comportamento será, por exemplo, ficar calado, remoendo sua frustração. Porém, diante da mesma situação, outra pessoa poderia pensar: “E agora? Vou me atrasar para chegar em casa! E se eu for assaltado no caminho?!”; pensando assim, sua emoção será ansiedade, e o comportamento será olhar repetidamente o relógio e manter-se alerta, com receio de perder o ônibus seguinte.
Contudo, uma terceira pessoa, diante da mesma situação, poderia pensar: “ah, perdi o ônibus… Bem, não há o que fazer; mas ainda bem que não era o último ônibus! Logo chegará outro”; pensando assim, sua emoção se mantém inalterada e seu comportamento poderá ser de tomar o celular e entrar no Facebook para passar o tempo enquanto aguarda o próximo ônibus. Deve-se notar que, nos três casos, a situação é a mesma; mas as emoções e comportamentos se diferenciam, dependendo da forma como cada pessoa interpretou ou representou a situação.
Então, em TCC, para tratar emoções adversas (depressão, ansiedade) e comportamentos disfuncionais (choro, desmotivação, inatividade, agitação, falta de concentração, irritabilidade, isolamento social, e muitos outros), nós atuamos sobre a forma da pessoa processar ou interpretar os eventos, as outras pessoas e a si próprio, e, assim, o capacitamos a modular e normalizar suas emoções e comportamentos.
Em resumo, a fim de tratar transtornos emocionais e comportamentais, a TCC atua sobre os padrões de processamento cognitivo dos pacientes, isto é, sobre suas formas habituais de interpretar e representar eventos, que os predispõem à instalação e manutenção de transtornos.
Processo da Terapia
O processo clínico, em TCC, requer uma sessão semanal e a maioria dos casos clínicos dura entre 12 e 24 semanas, com exceção de alguns casos, em que o grau de severidade e cronicidade dos sintomas requer um tratamento mais prolongado.
A TCC tem uma posição de destaque no cenário contemporâneo das psicoterapias. Uma vantagem da TCC é sua alta treinabilidade. Contudo, requer treinamento formal e extensivo pelos profissionais de saúde mental, a fim de que possam aplicar o processo independentemente e com eficiência.