Diretora do Instituto Marielle quer mais mulheres negras na política

Redação 14/03/2023
Atualizada 2023/03/14 at 2:30 PM
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Desde fevereiro deste ano, o Instituto Marielle tem nova diretora. A advogada Lígia Batista, de 29 anos, assumiu o cargo depois que Anielle Franco, irmã da vereadora assassinada em 14 de março de 2018, aceitou o convite para comandar o Ministério da Igualdade Racial. Lígia tem a responsabilidade de dirigir uma instituição criada ainda em 2018 para preservar o legado de Marielle e pressionar as autoridades que investigavam o caso. A instituição cresceu e se propõe hoje a liderar projetos de inclusão de mulheres negras e pessoas oriundas de favelas em postos de poder no país.

A nova diretora se formou em direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2016 e faz mestrado em políticas públicas em direitos humanos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisa acadêmica é voltada à representação de mulheres negras na política. Ela trabalhou durante quase seis anos na Anistia Internacional e quatro na Open Society Foundations (rede internacional de filantropia). Lígia conheceu Marielle Franco quando a parlamentar integrava a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) com Marcelo Freixo, antes mesmo de se eleger vereadora em 2016. Ela se tornou uma inspiração para a advogada, que assume agora a nova responsabilidade com orgulho e carinho especial.

Agência Brasil: Como foi construída sua trajetória profissional e intelectual até aqui, antes de chegar ao Instituto Marielle? Você sempre atuou na área de direitos humanos?

Lígia Batista: Começo a me entender a partir da faculdade de direito. Eu considerava a possibilidade de atuar no sistema de Justiça, em alguma função como defensora pública, promotora, juíza, mas nunca consegui me perceber tão confortável nesse tipo de lugar. Até porque o sistema de Justiça reproduz várias coisas que me afetam em vários sentidos, tanto no que se refere ao que significa ser uma pessoa preta ali dentro, ser uma mulher, ser uma pessoa jovem. Eu não me sentia confortável com a ideia de estar ali dentro. Ainda que eu ache super importante que tenhamos pessoas comprometidas em transformar o sistema por dentro. Mas escolhi caminhar a partir da sociedade civil e começo a minha jornada dentro da Anistia Internacional. Lá, em 2013, eu passo a compor a equipe de pesquisa política da organização, e a minha trajetória de atuação em direitos humanos foi fortemente construída a partir dessa primeira grande experiência.

Já trabalhei com várias agendas, tanto o direito à moradia adequada, recursos naturais, direito ao protesto, mas o que influenciou muito a minha trajetória profissional foi seguramente a agenda de segurança pública e sistema de Justiça Criminal. Eu atuava muito fortemente com a agenda de enfrentamento à violência policial, fazia acompanhamento das vítimas, dos familiares de vítimas de violência. Inclusive, esse é o grande ponto que me conecta com a trajetória da Marielle, porque é justamente por causa desse trabalho na agenda de segurança pública que começo a articular com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj, que na época ela coordenava. E é ali que a gente cria minimamente um fluxo de poder – encaminhar, por meio da Anistia, esses familiares para que fossem acolhidos pela Assembleia Legislativa, para que essa comissão ajudasse a encaminhar as famílias ao atendimento psicossocial, para serem acompanhados nos encontros do Ministério Público, nas delegacias de polícia. Essa conexão surge a partir daí e, após o assassinato da Mari, a minha conexão com a família se dá ainda dentro da Anistia, por conta da campanha de justiça por Marielle e Anderson, que a Anistia Internacional construiu aquela época, logo após o assassinato. Foi muito importante o posicionamento da Anistia naquele momento, porque o instituto ainda não tinha sido fundado, as organizações ainda estavam entendendo como reagir ao que tinha acontecido e a Anistia Internacional se mobilizou e construiu uma estratégia que envolvia campanhas de sensibilização da sociedade para esse caso. A partir daí, conheço dona Marinete, seu Antônio, Luyara, Anielle, Mônica Benício. Essa conexão se dá durante o meu período de consolidação da carreira no campo de pesquisa em direitos humanos.

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